Universidade Aberta
5º Curso de Mestrado em Gestão da Informação e Bibliotecas Escolares
Prof. Lúcia Amante e Prof. Mª João Silva

Identidade Social na Adolescência

Partindo do estudo individual de três recursos diferentes...

Huffaker, D.; Calvert, S. (2008). Gender, Identity and Language Use in Teenage Blogs. In Journal of
      Computater-Mediated Comunication, 10 (2), article 1.
Schmitt, K.; Dayanim, S.; & Matthias, S. (2008). Personal Homepage Construction as an Expression of
      Social Development. In Development Psychology, 44 (2), 496-506.
Schoen-Ferreira, T.; Aznar-Faria, M.; Silvares, E. (2003). A construção da identidade em adolescentes: 
     Um estudo exploratório. In Estudos de Psicologia, 8 (1), 107-115.

...  a turma discutiu no forum as características e o processo de construção da identidade dos adolescentes, considerando a influência dos media digitais neste processo.
 Optei por transcrever a minha 1ª intervenção por nela fazer uma síntese dos 3 documentos fornecidos para estudo.

     Da leitura que fizemos dos documentos indicados sobre o processo de construção da identidade durante a adolescência e sobre a relação estabelecida entre os adolescentes e o “computador”, registamos as seguintes conclusões por as considerarmos mais pertinentes:

- a atracção dos adolescentes por alguns programas e aplicações informáticas e ainda pela Net, pode explicar-se pelas características do próprio processo de crescimento que aqueles atravessam; a variedade e a multiplicidade de temas e de tarefas que o uso do computador oferece, vai de encontro às necessidades que os jovens sentem durante o estado de moratória onde questionam quase tudo sem conseguir ainda definir as suas escolhas; os problemas de comportamento que, muitas vezes, andam associados a esta fase, correspondem “ao período da crise, em que o adolescente está explorando as diversas possibilidades ao seu alcance” (1) – os programas de conversação, as redes sociais na Net, blogs, páginas e a própria Net abrem aos jovens um universo de novos valores, crenças e metas com os quais vai construindo a sua identidade / concepção de si mesmo; páginas pessoais e blogs, passíveis de serem vistas por toda a gente, permitem, por vias diferentes, um retrato do respectivo autor, controlado e semipermanente da representação de cada um para os outros (3);
     Da leitura que fizemos dos documentos indicados sobre o processo de construção da identidade durante a adolescência e sobre a relação estabelecida entre os adolescentes e o “computador”, registamos as seguintes conclusões por as considerarmos mais pertinentes:

- tomando em consideração os autores do texto citado, a formação da identidade recebe a influência de 3 factores: intrapessoais, interpessoais e culturais. Destacamos a importância que os blogs e homepages ou programas como o Hi5, Facebook, MSN ou ainda o mail podem ter ao nível da identificação do jovem com outras pessoas e da aquisição de valores sociais; certos factores inibidores na vida real como o corpo, sexo, raça, idade que podem ser fortemente constrangedores para o adolescente, perdem peso online no mundo virtual onde o jovem se auto-constrói (2); com frequência o jovem questiona-se sobre “quem sou eu?”, olhando para os outros; através de interacções com o computador, nomeadamente jogando, o adolescente experimenta o seu carácter (3); os programas de conversação proporcionam-lhe interacções semelhantes às da vida real;

- por um lado, os adolescentes “tendem a escolher amizades que sejam como eles próprios… associando-se a grupos que compartilham seus valores, atitudes e comportamentos” (vide 1) e as redes sociais na Net favorecem isto mesmo; as comunidades de bloggers tornam-se em grupos de amigos / pares, tão importantes durante a adolescência; os weblogs representam um novo meio de comunicação mediatizada e correspondem à necessidade dos jovens se expressarem e relacionarem o que tem impacto na construção da sua identidade (2). Por outro lado, alguns jovens aproveitam estes espaços para, ao abrigo de uma falsa identidade, travarem conhecimento com pessoas diferentes; como dizem Huffaker e Calvet (2), o adolescente constrói a sua identidade através do meio e gosta de assumir diferentes papéis e perspectivas, de modo brincalhão, para experimentar algo que poderá vir a ser; alguns jovens revelam desejo de socialização alternativa e gostam de fazer amigos online diferentes dos que têm na escola;

- se “cada contexto de desenvolvimento (família, escola, vizinhança, clubes) deve auxiliar a exploração e o compromisso, favorecendo o adolescente …” (1), parece-nos inegável a eficácia das novas tecnologias na aquisição de competências e valores! Contudo se “mudanças de contexto, podem implicar em mudanças na natureza da identidade” (1), há que se estar atento aos efeitos que podem ter sobre os jovens, os múltiplos contextos que a Net proporciona, transmissores de valores negativos ou não defensáveis em sociedades democráticas… “…torna-se necessário educar procurando valores comuns, universais e propor uma educação que considere a dignidade humana”. (1) Segundo alguns autores, a comunicação social e as novas tecnologias têm sobre o jovem, mais importância do que a família e a escola. Fica a esperança de que a Net equipe melhor os jovens a nível profissional e os eduque, para ale, de os ajudar a combater a depressão e isolamento que por vezes ocorre entre os adolescentes – esta é a mensagem dos autores do texto (3).

     Escolhi esta intervenção da Mª Brígida pela pertinência de que se reveste: as oportunidades e os perigos da Net para os jovens!

     Considero que a internet pode apresentar-se como uma oportunidade ou um perigo no processo de construção da identidade durante o período da adolescência.
     Através da internet os adolescentes partilham cada vez mais informação pessoal, expressam os seus sentimentos e intimidades, disponibilizam informação pessoal tal como o nome, a morada, a idade…
     É uma realidade recente que apresenta vantagens e desvantagens, com a qual os pais e professores têm de aprender a lidar.

Oportunidade:
     Estudos realizados revelam que: “(…) preadolescents and adolescents, for the first time in human history, are able to publish at will (expressing themselves publicly to a mass, but anonymous, audience). This new form of expression is private, occurring in children’s own time and space, and not only allows for mastery of technological and social skills, but also contributes to youths’identity development in a unique fashion. This kind of online publication could have a tremendous impact on development.” (1)
     Neste estudo, é mostrado que os adolescentes se tornam mais autónomos, mais extrovertidos, estabelecem relações ao explorarem a sua identidade via internet, criando páginas pessoais, blogues onde se apresentam física e psicologicamente, umas vezes revelando a verdade outras vezes mentindo sobre a idade ou o aspecto físico. Por brincadeira ou não, considero que esta situação pode ser perigosa, a título de exemplo partilho convosco a seguinte situação:
     Como lidar como uma situação em que se detecta uma aluna do 4º ano que no messenger é apanhada pela Professora Bibliotecária a falar com um individuo e a dizer que tem 18 anos?
Perigo:
     Como mãe de jovens com idade compreendidas entre os 13 e 16 anos e professora, considero que o facto dos adolescentes divulgarem a sua identidade online (nome, a idade, a morada), sentimentos e intimidades pode ser extremamente perigoso.
     O facto é que os jovens passam grande parte do seu tempo na Internet, aproximadamente 50m por dia ( Roberts, Foehr & Rideout, 2005). ( 1)
     Há duas actividades cuja popularidade tem vindo a aumentar: páginas pessoais e blogues. Enquanto nas páginas pessoais os adolescentes fazem uma breve apresentação, nos blogues fazem verdadeiras narrativas de vida, expondo não só a sua identidade mas também os seus sentimentos e intimidades, sobretudo as raparigas . Os blogues permitem ter um feeback e estabelecer relações.
     Mas, que tipo de relações? Relações com gente desconhecida? Amigos diferentes da escola, que conhecem nas comunidades sociais, via internet. Como controlar estas novas e desconhecidas amizades?
     O estudo de Huffaker & Calvert revela que 70% dos adolescentes da amostra revelaram o seu primeiro nome, 59% deram a sua localização, 61% a informação do contacto e 44% o e-mail. Os autores, citam a este propósito Thornburgh & Lin (2002): "sexual predators can pose a serious threat to minors who are online."
     A Internet dá aos jovens uma sensação falsa de segurança, que os pode levar a entrar em contacto com gente perigosa: pedófilos e predadores sexuais.
     Antes, a personalidade do rapaz ou da rapariga era influenciado pela cultura, amigos, família, namorados, os media, a escola. Embora as influêcias fossem diversas, os pais/ professores sentiam que tinham a situação um pouco mais controlada, embora tivessem consciência dos perigos iminentes.
     Hoje em dia, a Internet desempenha um papel dominante na construção da identidade do adolescente, na aprendizagem sobre eles mesmos, abrindo portas para novas descobertas, para novas amizades, permitindo-lhes fazer experiências com a sua própria identidade, num mundo virtual, ao qual os pais e professores dificilmente têm acesso.
     Por outro lado, reconheço também que o acesso à Internet é fundamental para os jovens da actualidade, já que eles encaram a vida online como uma estratégia para sobreviver no séc. XXI.
     Reconheço também que é uma excelente oportunidade para ajudar os jovens a definir a sua própria identidade: ao tirarem exemplos uns dos outros, assumindo diferentes perspectivas, personalidades, é-lhes permitido experimentar diferentes facetas do que eles virão a ser ( Harter, 1998).(1)
     Outra vantagem é a flexibilidade da internet: enquanto os constrangimentos físicos, sexuais, raça, idade têm uma profunda influência na definição do carácter e na auto-apresentação em tempo real, muitos destes atributos tornam-se flexíveis nos ambientes online, já que num mundo virtual o adolescente ultrapassa facilmente o obstáculo da timidez, pode até construir o seu próprio corpo, uma identidade virtual, assumir uma outra personalidade. Este poder confere-lhes capacidades de autonomia, desembaraço, capacidade de se expressar mais livremente, de forma mais autónoma: “While physical constraints such as the body, biological sex, race, or age can have a profound effect on self-definition and self-presentation (Collins & Kuczaj, 1991), many of these attributes become flexible in online environments. In a virtual world, one even gets to construct one's body. The anonymity afforded to youth within virtual worlds allows adolescents more flexibility in exploring their identity through their language, their role play, and the personae they assume (Calvert, 2002)”. (2)
     A Geração Net tem de facto uma facilidade inata no uso dos recursos da internet: sabem aceder à informação de uma forma mais rápida, pensam e processam a informação de forma diferente, relacionam-se com as pessoas e com o quotidiano de forma diferente.
     A internet é a grande motivação dos jovens, cabe-nos a nós, pais/ professores, tentar aprender com eles e orientá-los no bom caminho, fazendo-os aperceberem-se dos perigos.

Bibliografia complementar / ver tb:
Lapa, Tiago e Araújo, Vera (2008). EGeneration: Os usos de media pelas crianças e
jovens em Portugal. Acedido em http://obercom.pt/.

Reflexão:
     Através desta actividade, apercebi-me que a atracção dos jovens pelo que vulgarmente se designa o computador (programas e aplicações informáticas, Net…) é motivada por algo mais do que a simples interactividade que a máquina proporciona. A variedade e multiplicidade de informação e tarefas simultâneas que este recurso oferece, cativam os adolescentes, naturalmente propensos à dispersão! Por outro lado, em muitos programas (blogues, sítios), de que são exemplo as redes sociais (Facebook, etc) os jovens apercebem-se dos diversos valores em relação aos quais devem fazer as suas escolhas – bons e maus, tal e qual como na sociedade real. O fascínio pode consistir ainda, para os adolescentes em crise ou mais inibidos, na discrição e “disfarce” que o mundo virtual lhes proporciona…
     O debate permitiu-me constatar a diferença que separa a maioria dos nossos alunos dos verdadeiros nativos digitais, descritos pelos autores dos textos analisados e ainda alertou para os perigos e vantagens da Net junto dos adolescentes.

    







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