Universidade Aberta
5º Curso de Mestrado em Gestão da Informação e Bibliotecas Escolares
Prof. Lúcia Amante e Prof. Mª João Silva

Media Digitais e Construção da Identidade Social

     Para a realização desta actividade, formámos 4 pequenos grupos de trabalho. Cada grupo analisou um documento cuja síntese colocou no fórum para apresentação à turma e posterior discussão.
     Esta foi a síntese feita pelo meu grupo:
Actividades sociais e desenvolvimento da identidade nos jovens
Síntese do texto 3: Why youth  Social network sites:
    The role of networked publics in teenage social life.
Danah Boyd
University of California, Berkeley, School of Information
Apresentação do estudo e objectivos do mesmo


     A autora inicia o seu trabalho citando o que um jovem de 18 anos disse à sua mãe: «Se você não está no MySpace, não existe».
     Outra jovem de 13 anos afirma que não sendo popular na escola, coloca no Xanga[1] as suas fotografias e relata as suas viagens, pensando que os colegas da escola ao lerem o seu blogue, se tiverem os mesmos interesses, poderão vir a ser seus amigos.
     Conforme salienta a autora, desde 2005 que as redes sociais on-line como MySpace e Facebook são frequentadas pelos jovens. Em 2006, muitos jovens já consideravam fundamental a participação nestes sítios para se afirmarem na escola.
     Dado o grande número de jovens que rapidamente e por vários países aderiu a estes sítios, Boyd (2008) coloca as seguintes questões, às quais pretende responder ao longo do trabalho:
Why do teenagers flock to these sites?
What are they expressing on them?
How do these sites fit into their lives?
What are they learning from their participation?
Are these online activities like face-to-face friendships or are they different, or complementary?
     Podemos então dizer que a autora teve como principais objectivos:
- desvendar as formas mais comuns à vida social on-line dos jovens de hoje;
- relacionar o uso dos sites de redes sociais com o processo de construção da identidade nos jovens.
     Boyd (2008) começa por documentar as principais características dos sítios de redes sociais; depois procura situar as redes sociais numa discussão mais ampla que chama de "networked publics": como é que os adolescentes desenvolvem a sua identidade através da criação de perfis nas redes sociais em que se inscrevem e dão corpo à sua comunidade. Nestas redes sociais online, Boyd identifica propriedades que não estão normalmente presentes nas situações de cara-a-cara da vida real. Reflecte ainda sobre a evolução social que leva os jovens a procurar grupos em rede e na mudança do papel que o grupo tem na vida dos jovens.
     Este estudo é baseado na recolha de dados etnográficos, efectuada durante dois anos sobre o envolvimento de jovens norte-americanos no MySpace. Os dados foram recolhidos através da observação, tanto on-line como off-line e de entrevistas a jovens citadinos (diferindo na idade, sexo, raça, sexualidade, religião, etnia e classe sócio-económica) com idades entre os 14 e os 18 anos. A autora analisou os perfis, os blogues e os comentários dos jovens, alguns já não frequentando o ensino. Seleccionou o MySpace devido à sua popularidade.


Principais resultados
     Os que não aderem ao MySpace — Boyd identifica dois tipos de não participantes: os que não têm acesso à Internet e os que são objectores conscientes. No primeiro caso, são jovens cujos pais os dissuadiram de participar nos “sítios” ou que acedem à Internet em espaços onde é interdito o acesso a redes sociais. No segundo caso, estão os jovens que protestam contra a própria empresa do MySpace, que obedecem aos pais por respeito ou por concordância, os marginalizados, e os que se sentem superiores não necessitando de se afirmar através destas redes. Contudo, alguns amigos dos não participantes criam-lhes perfis… Muitos alunos do ensino superior não participam já destas comunidades online.

     Condicionantes no acesso — Boyd verificou que a raça e a classe social tinham um papel irrelevante relativamente aos jovens que não têm acesso à Internet em casa. A diferença está nos objectivos com que a utilizam e nas facilidades de acesso a esta. Os que apenas acedem à rede nas escolas, fazem-no principalmente como um meio de comunicação assíncrona. Os que podem aceder à rede durante a noite, passam mais tempo a navegar na Net, dedicando tempo a modificar o seu perfil, a convidar amigos e a falar com desconhecidos. O género também influencia a forma de participação nas redes sociais: os rapazes mais novos participam mais do que as raparigas. Mas as raparigas mais velhas participam mais do que os rapazes mais velhos. Estes usam os sítios para namoriscar e conhecer novas pessoas. As raparigas mais velhas procuram comunicar com os amigos que conhecem pessoalmente. Apesar da idade ser importante o estudo apresenta resultados comuns aos jovens dos dois sexos.
     A presença de bandas de música do agrado dos jovens numa rede social, aumenta muito o número de utilizadores do site.
     A crescente importância das redes sociais, pode também explicar-se, segundo a autora, pelo excesso de protecção que leva muitas famílias americanas a promover a ocupação excessiva dos tempos livres dos filhos e a restringir cada vez mais o acesso destes a locais públicos de diversão.
     O emergir das redes sociais — Inicialmente o programa destinava-se à promoção de encontros através da pesquisa de perfis. Algumas bandas musicais aproveitaram o MySpace para se autopromoverem. Muitos jovens começaram a fazer downloads das músicas e começou assim a troca de informações entre os fans e as bandas.

Características das redes sociais — A estrutura destes “sítios” é semelhante e contem frequentemente os seguintes elementos: perfis, comentários, publicidade articulada, listas transversais de amigos. O aspecto fundamental é a partilha com os amigos, numa forma de conversa, de ideias, fotos, vídeos, etc. É muito importante o número de amigos que cada um apresenta aos outros: “You are who you know”, chegando a verificar-se reacções de ciúme por causa do “Top Friends” (lugar de destaque com selecção dos melhores amigos).


O público — A autora define vários tipos de públicos, distingue privado de público, e o que é apenas mediático (TV, rádio, etc.). Nas redes sociais juntam-se vários públicos, mas há perfis que se podem manter privados (só para os amigos). As “postagens” perduram mais que as notícias da TV ou dos jornais, e as audiências podem ser invisíveis.
Propriedades do público das redes sociais: a persistência (fica registado para a posteridade); capacidade de pesquisa (podem encontrar amigos); réplica (copiar e colar é possível, sem se saber qual era o original); e audiências invisíveis. Estas propriedades vieram alterar a dinâmica social entre os jovens.
     O público das redes sociais poderia, eventualmente, agregar todas as pessoas em qualquer lugar a qualquer hora. Na realidade isto não poderá acontecer porque as pessoas seleccionam os seus amigos.


Funcionamento e assuntos da rede — Ao contrário dos adultos que gostam de conhecer estranhos on-line, os “Teen” preferem, à partida, estabelecer contacto com pessoas que já conhecem pessoalmente ou com celebridades, mas por hábito falam de assuntos triviais das suas vidas privadas (agora tornadas públicas).
Conclusões


«MySpace is the civil society of teenage culture: whether one is for it or against it, everyone knows the site and has an opinion about it» (Boyd, 2008, p. 124).
Identidade — Apesar da ausência da expressão corporal, a identidade social manifesta-se no MySpace através do corpo digital/ perfil que o adolescente auto-constrói com texto ou imagens que dão de si informações, mesmo quando as queira disfarçar; deste modo o adolescente expressa aspectos da sua identidade para outros verem e interpretarem. Normalmente os jovens colocam no seu perfil, traços da sua personalidade e da sua vida que pensam ser do agrado do seu grupo on-line.


     Os “Teens” amadurecem através do acesso a estes grupos on-line. A vida do grupo pode ser divulgada e julgada por outros que não fazem parte dele. A identidade do jovem vai sendo formada, parcialmente, por ele e pelos outros.


Privacidade — Está um pouco na mão de cada um defini-la on-line restringindo o acesso do seu perfil ao seu grupo; esta questão é importante para os “Teens” que tentam assim iludir o controlo dos pais mais cibernautas. No entanto, nunca os “Teen” foram tão famosos nem tiveram tanta vida pública, marcada pela persistência, pesquisa, replicação e público!


Socialização — Consiste basicamente em interpretar as “pistas” sociais dos outros aos quais adaptamos o nosso comportamento: este processo, que faz parte da construção da identidade pessoal, também se verifica on-line através do corpo /presença virtual. Perante o grupo que escolhe, de amigos e de pares, com gostos e atitudes idênticas às suas (segundo crê o adolescente…), ele quer parecer “fixe” e este é um conceito que funciona na rede virtual ou fora dela.
     “Online, everyone is famous to fifteen people” – este comentário que circula na rede, de origem desconhecida remete para a popularidade que alicia os jovens e justifica, até certo ponto a sua atracção pelas redes sociais – cada um imagina o seu grupo à medida dos seus desejos (grupo de fans, de amigos íntimos…). Este processo é bem conhecido dos artistas e escritores que, antes da Net, eram os únicos a ter uma vida pública.
     É em casa ou na escola, locais “controlados” pelos adultos que os jovens encontram, através da Net, contactos sem restrições; deste modo, socializam menos na vida real e mais no espaço virtual.


Reacção dos adultos — As redes sociais trouxeram mudanças muito rápidas e visíveis na vida pública, bem como diversos perigos para os jovens, oriundos dos “predadores” que circulam por esses “sites”. A tendência de muitos pais é restringir o acesso dos filhos às redes, o que segundo a autora é contraproducente, pois quando os pais acedem à rede e lhes descobrem o perfil, facilmente os jovens criam um outro com diferentes traços. O caminho do adulto deve ir no sentido de aprender também a navegar na rede de modo a poder ajudar o adolescente, mais como guia e menos como polícia, na descoberta do mundo adulto


Desvios na utilização — As coisas podem complicar-se quando os “Teen” criam falsos perfis: pais, professores, alter-ego…


Cultura digital — As consequências de uma cultura criada através das redes sociais on-line ainda são desconhecidas. Ficarão os jovens mais habilitados a lidar com a diversidade e com a bisbilhotice?...
Notas:


[1] Xanga is a community where you can start your own free weblog, share photos and videos, and meet new friends too! Xanga.com – the blogging community.
Xanga (pronounced /ˈzæŋə/) is a website that hosts weblogs, photoblogs, and social networking profiles. It is operated by Xanga.com, Inc., based in New York City. Acedido em 24 de Novembro de 2009 em http://en.wikipedia.org/wiki/Xanga
Referências bibliográficas:


Boyd, Danah. (2008). Why Youth  Social Network Sites: The Role of Networked Publics in Teenage Social Life. In Youth, Identity, and Digital Media: 119-142.

 
     Escolhi uma intervenção sobre a utilização de canais periféricos como estratégia de aprendizagem, por tal ser uma novidade para mim. Optei pela intervenção da Raquel por ela sistematizar, em meu entender, as potencialidades e dificuldades de tal ferramenta em espaço de aula.

     A problemática abordada neste estudo é cada vez mais pertinente, uma vez que tendencialmente caminhamos para um tipo de ensino/aprendizagem que vai colocar o aluno e o processo de aprendizagem no cerne da questão, possivelmente, cada vez mais com recurso ao ensino à distãncia, como estamos neste momento a fazer.
     Desconhecia a utilização destes canais periféricos na sala de aula, mas encontrei bastantes vantagens na utilização de uma tecnologia deste género, das quais destaco a partilha do saber colectivo, a possibilidade de desenvolver o poder argumentativo, no fundo a possibilidade de poder transformar a aprendizagem num processo activo.
     A sua utilização, porém, como é referido no artigo, deve obedecer a um conjunto de regras sob pena de a mesma tecnologia poder ser mais um motivo de distracção e transgressão por parte dos alunos.
     Consigo imaginar uma aula expositiva num anfiteatro universitário, dirigida a uma centena de alunos e o recurso a esta ferramenta em simultâneo. Parece-me que com um público mais adulto e mais responsável talvez a experiência seja muito positiva. Não dispensaria, contudo, a figura do professor acompanhante, gestor das interacções.
     Parece-me mais complicada a sua utilização com alunos do ensino básico, onde a tentativa para a transgressão pode ser maior. Porém, só experimentando com algumas turmas poderíamos chegar a alguma conclusão mais fidedigna.
     Acredito que a tecnologia vai cada vez com mais naturalidade fazer parte da forma como vivemos, estudamos, trabalhamos. Portanto, é natural que daqui a alguns anos o recurso aos canais periféricos seja uma realidade. É possível também que passado algum tempo de deslumbramanto com as tecnologias, as pessoas comecem a reflectir mais aprofundadamente sobre as vantagens e desvantagens das mesmas.
     Pessoalmente, sou fã de novas formas de aprendizagem que incluam novas tecnologias, embora não seja, de forma alguma, uma perita em nenhuma delas. Mas às vezes dou comigo a pensar se o ritmo acelerado a que tudo se passa é compatível com o ritmo de assimilação de novas aprendizagens/ de conhecimento.
     Enfim, reflexões...
Raquel

     Seleccionei a intervenção da Helena por ela problematizar a utilização dos novos media em contexto de aula, nomeadamente dos quadros interactivos. A morosidade na utilização, motivada pela falta de formação e treino, pode ser um sério obstáculo à generalização dos recursos multimédia…

     A utilização desta ferramenta nas salas de aula parece-me muito útil em situações de debate (os alunos não precisam de estar à espera, os mais tímidos podem cooperar com mais à vontade, todos podem participar) e até de desenvolvimento da escrita e da leitura (alguns não ouvem as participações orais, mas para escrever/ responder terão que as ler).
     Como foi muito bem apontado no resumo, terão que ser elaboradas as regras de funcionamento dos chats. Apesar de alguns constrangimentos, se o professor tiver formações na área, as vantagens (apontadas no resumo) serão visíveis na aprendizagem dos alunos.
     Estou em formação na área dos quadros interactivos. De momento só vejo horas e horas de trabalho para os professores conhecerem todas as ferramentas e a forma como as poderão utilizar, para além das muitas horas que são necessárias para a elaboração das actividades. Mas quer os professores da formação, quer alguns alunos (principalmente os mais velhos) parecem não ver ainda uma grande diferença na utilização dos quadros interactivos, a não ser que todos os alunos, simultaneamente possam estar a realizar, cada um no seu lugar, as actividades. O ficar à espera da sua vez para ir ao quadro só prende a concentração nos primeiros minutos, depois a atenção é desviada para as “coisinhas do costume”. Os alunos, como já foi dito noutros temas, querem estar sempre a mexer a fazer algo, e os chats podem servir para as duas coisas: atenção aos assuntos em discussão e a utilização de uma ferramenta que sempre os atraiu.
por Helena Sampaio
Reflexão:
     Esta actividade  permitiu aprofundar questões já abordadas anteriormente sobre a utilização pedagógico-didáctica dos media digitais e ainda a sua influência na construção da identidade dos jovens:
• O recente aumento de conteúdos juvenis online e o seu significado;
• As potencialidades e riscos da utilização de um canal periférico /“sala de chat” no espaço de aula;
• Os meios de comunicação digital e as novas tecnologias versus “relação de poder” entre os estudantes/jovens e os professores/adultos;
• A vida social online dos jovens e o contributo das redes sociais para a construção da identidade durante a adolescência.
     Através do debate, pudemos ainda constatar a diferença entre a maioria dos jovens que frequentam as escolas portuguesas e os que são referidos pelos autores dos textos estudados.

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